terça-feira, março 15, 2005

dia sessenta e oito : 68 : edição especial : cadernos oblíquos # 03 & rotação oblíqua # 02

a propósito da sonoridade que roda na barra lateral:

[prelúdio da noite]

em julho do ano passado, dois dias depois de uma actuação em portugal, um ataque cardíaco durante um concerto terminou com a vida de mark sandman e pôs fim a um dos mais inovadores e singulares projectos que a década de noventa viu nascer. mas sandman não partiu sem nos deixar, quase em segredo, o registo de um dos seus mais importantes legados para a música. já concluído aquando da fatídica noite de julho, the night foi gravado com produção própria no estúdio da banda [o que aconteceu pela primeira vez], sendo que mark sandman escreveu e compôs ao longo de dois anos um belo conjunto de onze temas muito pessoais e tocantes.
a voz arrastada de sandman deambula ao longo de todo o álbum, funcionando como elemento preponderante de um ambiente musical particularmente denso e soturno, magistralmente acompanhada pelo saxofone de dana colley – facto bem patente em souvenir, onde este surge inicialmente distante, enquanto que a bateria de billy conway assume o principal papel, evoluindo para um excelente solo; ou ainda em top floor, bottom buzzer, onde o saxofone abandona uma certa melancolia e se entrega a sonoridades mais cadenciadas.
rope on fire é uma das melhores faixas de todo o álbum, destacando-se por uma sonoridade que se afasta da homogeneidade rítmica e instrumental das restantes composições, sendo marcada por um orientalismo cuja construção assenta na entoação vocal de sandman e no recurso a instrumentos para além dos habituais saxofone, bateria e baixo de duas cordas: caso do violoncelo, da guitarra acústica e da viola-de-arco.
por último, o tema de abertura, que dá nome ao álbum, salienta-se pelo intimismo lírico [you´re a bedtime story/the one that keeps the curtains closed/and i hope you´re waiting for me/cause i can´t make it on my own].
este último álbum marca um claro passo no sentido de reinventar uma sonoridade onde o rock e o jazz se entrecruzam, espelho da preocupação dos morphine em não ficar presos a um único modelo que, apesar de bem sucedido, poderia acabar por se tornar redutor para a própria banda.



[por fdv e tjm: originalmente para o jornal a cabra # 56, fevereiro de 2000]

4 comentários:

LúciaGrande disse...

Bela "posta", sim senhor! :)

O Puto disse...

É um belo disco de despedida, sereno e maduro. Depois de 3 discos brilhantes e um muito bom, Mark Sandman e Cia. entregam-nos o seu álbum póstumo, para nos consolar da sua morte prematura.
O concerto que deram na praça Sony ficará sempre na minha memória.
RIP MS

gonn1000 disse...

A banda nem sempre me cativou, mas neste disco estão bem (especialmente na canção-título)...

Pequena Lontra disse...

O conceto da praça Sony foi bestial, mas o da latada em Coimbra também foi muito bom, o ambiente é que não era bem o mesmo!

Mando daqui uma Empty Box ao sr. Sandman, para que a encha de coisa alguma e ma envie de volta....

So long... encontramo-nos noutros concertos, nos que são só alma, som, sem corpo!!!