quarta-feira, março 02, 2005

dia cinquenta e sete : 57 : edição especial : cadernos oblíquos # 01 & as paredes têm ouvidos # 31

[a melancolia do tempo e da noite]

madrid e toda uma imensidão de nada, despojos de aridez, elementos de desolação, a solidão de uma cidade perdida na noite, dois homens bêbados esquecidos da vida....ao fundo os primeiros acordes de “fortune’s show of our last”, do terceiro álbum do projecto migala.
no país do flamenco e de uma alegria generalizada, os migala, colectivo de seis músicos espanhóis, apresentam no novo álbum “arde” uma poesia nocturna que transborda melancolia, tragédia e saudade, feita de gestos sem pressa e de uma incessante busca de tranquilidade. “arde” é um conjunto de pequenas histórias feitas de múltiplas sonoridades que compõem um imaginário onde o tempo atravessa a noite e em que a cada momento somos confrontados com verdadeiros ambientes cinemáticos, cujo quase realismo assenta num inteligente (mas moderado) recurso aos samplers.
os migala desenvolvem uma sonoridade onde os mais atentos irão descobrir inúmeros pontos de contacto com alguns nomes de culto como será o caso de leonard cohen, nick cave ou tindersticks, sendo que esta musicalidade, repleta de influências, reflecte uma profundidade e simplicidade lírica desarmante. os arranjos, de uma qualidade inquestionável, são elemento preponderante na construção desta música calma, arrastada, feita de crescendos e plena de derivações paisagísticas.
sons sussurrados, um crooning próximo da estética tinderstickiana, um spoken word na linha de nick cave, o violoncelo arrastado e pesaroso, guitarras melodiosas e o acordeão fazem de “arde” um trabalho extremamente recomendável para quem gosta de sonoridades melancólicas e taciturnas.


migala : arde : # 10 the guilt [acuarela 2001]

[por fdv e tjm : originalmente para o jornal a cabra # 68, abril de 2001]

2 comentários:

gonn1000 disse...

Já ouvi a banda, mas conheço muito pouco...Um dia destes pode ser que lhes dê mais atenção, é o tipo de música ideal para ouvir no Inverno, em casa :)

Anónimo disse...

bons velhos tempos...
hoje em dia ouve-se: real gone do senhor tom waits (mais um grande álbum para variar) e na feira do disco em coimbra namora-se o nebraska do bruce springsteen, um dos melhores álbuns (o melhor?!) do amigo bruce, com américa à flor da pele (acho que vou comprá-lo para banda sonora enquanto leio "Pensei que o meu pai era deus", uma selecção de histórias de simples americanos organizada por Paul Auster)